Cravos e espinhas são grandes inimigos estéticos dos adolescentes, faixa
etária na qual são mais prevalentes e estão relacionados com prejuízos
psicológicos, como constrangimento, redução da autoestima, ansiedade,
frustração e até depressão. A associação entre acne e alimentação,
apesar de ser rodeada de mitos e crendices, tem sido bastante estudada
pela ciência e explorada pelos meios midiáticos.
Para o entendimento do papel dietético sobre a prevenção e tratamento
da acne é necessário o conhecimento dos quatro fatores etiopatogênicos
básicos desta doença: a produção exagerada de sebo, a hiperproliferação
de células da pele, o aumento da multiplicação de bactérias da espécie
Propionibacterium acnes e a inflamação da pele são eventos essenciais à
instalação da acne e todos eles sofrem influência da alimentação.
Vários estudos epidemiológicos demonstram que em civilizações que
adotam hábitos alimentares distintos dos ocidentais contemporâneos, a
acne é rara, enquanto no ocidente, esta dermatose atinge entre 75 e 90%
dos adolescentes. O elevado consumo de laticínios e alimentos de alto
índice glicêmico, como açúcar, doces e cereais refinados é apontado como
a principal justificativa para tais achados. Leite, derivados e
carboidratos de rápida absorção elevam a secreção hepática do fator de
crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) que, por sua vez, promove
aumento da proliferação das células da pele e aumenta a liberação de
hormônios sexuais, que estimulam na pele a produção de sebo.
Os alimentos ricos em gorduras saturadas, como carnes gordas,
linguiças, salames e chocolates também podem piorar a acne,
O desequilíbrio entre
o consumo de alimentos ricos em gorduras da série ômega 6 e ômega 3
também tem implicação no aumento da prevalência da acne. Os ácidos
graxos ômega 3 têm como principais fontes alimentares pescados, linhaça e
chia. São consumidos em quantidades insuficientes nos padrões
alimentares ocidentais.
Na pele, estes lipídeos reduzem a inflamação e,
consequentemente, melhoram quadros acneicos. Os ômega 6, por outro lado,
presentes principalmente em óleos de soja, milho e girassol são
consumidos em quantidades exageradas e têm efeito inflamatório.
Alterações da homeostase microbiana intestinal são também
responsáveis pela alta prevalência de acne. Elementos comuns do estilo
de vida ocidental contemporâneo, como estresse, má alimentação e uso
excessivo de antibióticos e inibidores da secreção ácida alteram no
intestino o equilíbrio entre bactérias benéficas e patogênicas. As
bactérias maléficas destroem as junções entre as células intestinais,
aumentando a permeabilidade intestinal, que permite a absorção de
macromoléculas e toxinas que, por sua vez, causam inflamação sistêmica,
observada na pele com o aparecimento de cravos e espinhas. O intestino
alterado também produz substância P, que na pele induz inflamação e
secreção de sebo.
A alimentação tem uma forte influência sobre a saúde da pele, assim
como de todo o organismo. A alta prevalência de acne em nossa sociedade
não se deve apenas a alterações hormonais vivenciadas por todos, durante
a adolescência, mas principalmente aos hábitos de vida da população. O
estímulo à mudança de hábitos alimentares é essencial para a redução do
impacto à qualidade de vida, representado por esta patologia.
Referências Bibliográficas
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BOWE, W.P.; DOYLE, A.K.; CRERAND, C.E.; et al. Body image disturbance
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PAPPAS, A. The relationship of diet and acne: A review. Dermatoendocrinol; 1(5):262-7, 2009.
Texto adaptado de: VP - Nutrição Funcional
Texto adaptado de: VP - Nutrição Funcional