A dica nutricional publicada na revista
Boa Forma associa o consumo de temperos culinários naturais como o
gengibre, a pimenta, o cravo, a canela e, em especial, a cúrcuma, à
prevenção e tratamento da obesidade, graças à capacidade de interferir
no metabolismo do tecido adiposo.
Houve um tempo em que a obesidade era encarada como um problema
social estético, passando posteriormente a ser reconhecida como uma
doença. Mais adiante, avanços científicos comprovaram que a obesidade é
uma doença de caráter crônico. Mais recentemente, pesquisas têm
identificado a obesidade como uma doença de origem inflamatória. Desta
forma, podemos defini-la como uma doença crônica não-transmissível, de
caráter inflamatório, de causa multifatorial, e que atua como fator
adjuvante no desenvolvimento da síndrome metabólica, assim como fator de
risco significativo para doenças cardiovasculares e diabetes.
Embora se tenha pensado durante muito tempo que o tecido adiposo
servia unicamente como depósito de gordura excessiva, pesquisas têm
demonstrado outras funções orgânicas importantes, como estímulo nervoso
autônomo e secreção de hormônios. Esse mecanismo regulador é capaz de
preservar energia no período pós-prandial, efeito conhecido como
lipogênese, e mobilizar energia em períodos de aumento de gasto
energético, chamado de lipólise.
Estudos mais atuais têm evidenciado que, além do efeito regulador
metabólico, o tecido adiposo é capaz de produzir substâncias
consideradas mediadoras da resposta inflamatória como o Fator de Necrose
Tumoral alfa (TNF-alfa), interleucinas pró-inflamatórias (IL-1beta,
IL-6, IL-8, IL-10, IL-15) e prostaglandinas da série 2 (PGE2).
Outro fator importante descoberto é a maior infiltração de macrófagos
no tecido adiposo do indivíduo obeso, capaz de secretar citocinas
pró-inflamatórias como TNF-alfa, IL-1 e IL-6, estimulando por sua vez a
expressão de citocinas pelo próprio adipócito. O estímulo à produção de
citocinas pró-inflamatórias se dá pela ativação de um fator de
transcrição conhecido como Nuclear Factor-kappaB (NF-kB), que está
presente no citoplasma na forma inativa associada a uma série de
proteínas inibidoras chamadas de IkB. Quando esta sofre reação de
fosforilação, é desprendida e destruída, liberando NF-kB na forma ativa,
que é capaz de entrar no núcleo celular e aumentar a expressão de
mediadores inflamatórios pelo adipócito. A atividade excessiva do NF-kB
tem sido associada ao desenvolvimento de resistência a insulina, diabetes
tipo 2 e risco cardiovascular, demonstrando papel importante não só no
desenvolvimento da obesidade como da síndrome metabólica.
Diante dessa recente associação entre a obesidade e o sistema
imunológico, muitos compostos ditos como anti-inflamatórios têm sido
pesquisados e mais de 800 substâncias foram associadas a redução da
expressão do NF-kB, entre elas a curcumina.
A curcumina é um flavonóide presente na cúrcuma (Curcuma longa),
também conhecida como açafrão-da-terra, turmérico, açafrão-da-Índia e
gengibre amarelo, e é uma planta da família do gengibre, originária da
Ásia, utilizada como especiaria e tempero culinário.
Uma pesquisa in vitro evidenciou que a curcumina é capaz de inibir a
ação de enzima responsável pela fosforilação do IkB, impedindo a sua
destruição e a entrada do NF-kB no núcleo celular, reduzindo assim a
expressão de mediadores pró-inflamatórios. Essa característica
anti-inflamatória tem associado o consumo da curcumina à prevenção da
obesidade.
O potencial antiangiogênico da curcumina também tem sido associado
como fator importante na prevenção da obesidade. A angiogênese, ou seja,
a formação de novos vasos sanguíneos, é necessária para o crescimento
de qualquer tecido, assim como do tecido adiposo, por permitir a chegada
de oxigênio e nutrientes. Um estudo em ratos demonstrou que o efeito
supressor da angiogênese no tecido adiposo pela curcumina e o seu efeito
no metabolismo dos adipócitos contribuíram para o reduzido aumento de
peso e gordura corporal.
A síndrome metabólica, conhecida pela associação de fatores como a resistência à insulina, intolerância a glicose,
hiperinsulinemia, aumento da lipoproteína de muito baixa densidade,
diminuição da lipoproteína de alta densidade e hipertensão arterial
sistêmica, tem papel importante no desenvolvimento de doença
cardiovascular em indivíduos obesos. A resistência insulínica perece ser
o gatilho principal para a ocorrência de todos os outros fatores. Uma
pesquisa in vitro demonstrou que a curcumina é capaz de reverter a
resistência insulínica no tecido adiposo pela via de inibição da
expressão de NF-kB.
Outro estudo em ratos evidenciou que o uso da curcumina reduziu a
infiltração de macrófagos no tecido adiposo, a atividade do NF-kB
hepático, a hepatomegalia e marcadores de inflamação hepáticos,
concluindo que a administração oral do flavonoide é capaz de reverter
danos inflamatórios e metabólicos associados à obesidade e de melhorar o
controle glicêmico.
A associação entre o consumo de cúrcuma e a prevenção da obesidade
parece ter maior explicação no caráter anti-inflamatório do seu
flavonoide, já que a doença foi identificada como de origem
inflamatória. Tal característica também confere à curcumina a capacidade
de reduzir o risco de resistência à insulina, que tem papel fundamental
na instalação da síndrome metabólica e na obesidade.
A maioria dos estudos atuais demonstra as propriedades da curcumina
in vitro, ou em animais, sendo necessárias maiores informações dos
efeitos da substância em humanos. De qualquer forma, diante da
quantidade de fatores nocivos aos quais somos expostos diariamente
através da alimentação, água, ar e estilo de vida, fazer uso de
substâncias como temperos naturais em substituição àqueles artificiais
por si só já representa benefício à saúde. Às vezes, o apelo estético da
associação entre consumo de uma substância e prevenção de obesidade
pode pesar a favor de hábitos alimentares mais saudáveis!
Blog : Vponline