domingo, 29 de julho de 2012

Anemia ferropriva na infância


        
     A anemia pode ser definida como um estado no qual existe uma concentração anormalmente baixa de hemoglobina circulante decorrente da carência de um ou mais nutrientes, independente do motivo desta carência1. A anemia ferropriva é decorrente especificamente da carência de ferro no organismo, seja devido à ingestão deficiente do mineral, baixa absorção do ferro biodisponível ou até mesmo por infecções parasitárias1,2
        A anemia ferropriva é a doença de maior prevalência do mundo, atingindo cerca de um terço da população, e constitui o distúrbio nutricional mais freqüente nas crianças abaixo de 5 anos de idade5,6. Estima-se que sejam anêmicas 12% das crianças que vivem nos países desenvolvidos e 51% daquelas que vivem em países em desenvolvimento5.
         Um artigo publicado este ano (2009) pela Revista Paulista de Pediatria1 compilou dados de diversos estudos brasileiros acerca da anemia ferropriva realizados em um período de 11 anos, com o objetivo de fazer um levantamento da prevalência desta doença no Brasil. O resultado confere com aquele estimado para países em desenvolvimento: 53% das crianças menores de 5 anos apresentam a doença, que tem maior prevalência nas regiões norte e centro-oeste do país.
      Esta alta taxa de prevalência está relacionada a alguns fatores determinantes, como o baixo nível sócio-econômico, a prematuridade e o baixo peso ao nascer, o desmame precoce e, principalmente, à baixa ingestão de ferro de alta biodisponibilidade combinada com a necessidade aumentada deste mineral, devido ao crescimento rápido, característico desta fase da vida1,4,6.
       Isto porque, não apenas a baixa ingestão de alimentos ricos em ferro está relacionada com a carência deste nutriente no organismo. O Estudo Nutri-Brasil Infância7, realizado em 2008, aponta para índices adequados de ingestão de alimentos fontes de ferro. Por outro lado, estima-se que haja, no Brasil, uma freqüência modal de anemia entre 30 a 50% em menores de cinco anos (Fisberg & Barros 2008)8. Dessa forma, é importante verificar a qualidade e a biodisponibilidade deste nutriente no alimento, assim como a possibilidade de existir interações e interferências de outros nutrientes durante a absorção do ferro. Um exemplo disso, que pôde ser verificado através do estudo Nutri-Brasil Infância, é que a principal fonte de ferro da alimentação dos pré-escolares brasileiros, é o feijão, que é uma fonte vegetal, com ferro de baixa biodisponibilidade.
      A deficiência de ferro nos primeiros anos da infância podem acarretar diversos distúrbios do crescimento, entre eles, o retardo do desenvolvimento psicomotor, dificuldades na aprendizagem da linguagem, diminuição da resistência a infecções e distúrbios psicológicos e comportamentais, como falta de memória, fadiga, irritabilidade e sentimento de insegurança1,2,3,4,5.
         Pais, cuidadores e profissionais de saúde devem estar sempre alertas no que diz respeito ao estado nutricional de crianças abaixo de 5 anos6. O acompanhamento médico e nutricional, aliado a uma alimentação adequada, rica em alimentos fontes de ferro e fortificados e ainda, se necessário, combinada com uma suplementação adequada podem garantir uma infância mais saudável, permitindo à criança um crescimento e desenvolvimento de acordo com todo o seu potencial.


Referências Bibliográficas:
(1) Jordão REBernardi JLDBarros Filho AA. Prevalência de anemia ferropriva no Brasil: uma revisão sistemática. Rev. paul. pediatr., 2009; vol.27, n.1, pp. 90-98.
(2) Brito LL et al. Fatores de risco para anemia por deficiência de ferro em crianças e adolescentes parasitados por helmintos intestinais. Rev Panam Salud Publica, 2003; vol.14, n.6, pp. 422-43.
(3) de Oliveira RS et al. Magnitude, distribuição espacial e tendência da anemia em pré-escolares da Paraíba. Rev. Saúde Pública, 2002; vol.36, n.1, pp. 26-32.
(4) da Silva LSMGiuglian ERJAerts DRGC. Prevalência e determinantes de anemia em crianças de Porto Alegre, RS, Brasil. Rev. Saúde Pública, 2001; vol.35, n.1, pp. 66-73.
(5) Monteiro CASzarfarc SCMondini L. Tendência secular da anemia na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev. Saúde Pública, 2000; vol.34, n.6, suppl., pp. 62-72.
(6) Rodrigues CRM et alii. Prevalência de anemia ferropriva e marcadores de risco associados em crianças entre 12 e 18 meses de idade atendidas nos Ambulatórios do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira. J. Pediatr. (Rio J.), 1997; 73(3):189-194.
(7) Danone Research et col. Estudo Nutri-Brasil Infância. 2008.
(8) Fisberg MBarros MJL. O papel dos nutrientes no crescimento e desenvolvimento infantil. São Paulo: Savier, 2008.

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